Quem nos mantém unidos, o medo ou o amor?
terça-feira, maio 19, 2009
Postado por caphooke
Pensei uma coisa estranha(ou nem tão estranha assim). Será que os medos unem mais as pessoas do que as afinidades recíprocas e do que os afetos? Estes últimos são importantes para aproximar pessoas, porém para mantê-las unidas, é o medo que conta.
Alguém poderia perguntar, sim, mas e daí? Daí que o medo não é o amor! E para continuar o argumento necessito reivindicar a supremacia do medo sobre o amor. Chamemos, na falta de um termo melhor, de "instinto" um sentimento inconsciente, uma pulsão freudiana. Se, toscamente, considerarmos "medo" e "amor" dentro desse rótulo, podemos fazer a seguinte pergunta: "Quem é evolutivamente anterior?" No sentido de preservação da vida e possibilidade de transmissão de seus genes a resposta seria sem dúvida, o medo. Só após superarmos o medo, teremos condições de criar num outro uma projeção afetiva de nós mesmos, de modo a não querermos nos separar jamais dele, ou seja lá qual for a definição de amor que se queira utilizar: o medo é primordial. O medo, nesse sentido, seria como a fome e a sede. Um pressuposto a ser vencido. Uma condição com a qual não se pode progredir. É preciso transcendê-lo antes. Daí que a união pelo medo subverte toda a fundação metafísica na qual está apoiada nossa cultura. Por exemplo, poderíamos dizer: "Temo, logo existo!" pois tememos muito antes de pensar.
Se assim é, a linguagem do corpo seria a linguagem da necessidade, da dor e do medo. Viver (ser-em) é apavorante. A cada segundo nos defrontamos com nossa finitude e nos apelidaram de ser-para-morte. Alguns pacientes que passam por experiências radicais (por exemplo, uma internação na UTI, uma grande cirurgia, ou vencer um câncer), adquirem uma visão bem diferente do "viver": eles perdem o medo! Aquele medo primevo e ancestral e, assim, se libertam. E libertando-se, derrubam Heidegger, Descartes, Platão, deuses, Deus, e a ciência. Esses homens-sem-medo podem amar livremente, fazer promessas livremente, viver livremente. Eu converso com pessoas assim diariamente e meu maior medo realmente é não conseguir ser como elas...
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PS1. Dentro desse contexto, seria admissível ao humano o medo de amar?
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