O filme “A Partida”, de Yojiro Takita, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009, nos leva refletir, de modo lírico, sobre a trágica dialética entre Tradição e Modernidade sob as condições da crise estrutural do capital. O interessante é que o diretor Takita discute o tema da Tradição ameaçada e dissolvida pela modernidade do capital através de uma reflexão intensa - e as vezes bem-humorada - sobre o sentido da morte (e da vida) no mundo moderno.  Conseguindo desse modo, problematizar o valor da Tradição sem ser nostálgico.

A sociedade japonesa encontra-se em uma crise de desenvolvimento que expõe um leque de sintomas de morbidez social. O que explica, de certo modo, porque o problema da morte (e do próprio sentido da vida) aparece como sendo um problema decorrente da crise capitalista sob a crise da modernidade tardia, o que se evidencia no filme através de uma intensa força narrativa. Aliás, ao tratar da morte e sua significação, o filme resgata o sentido da vida nas condições da crise atual de civilização.

No filme, através da esfera do trabalho que se evidenciam as questões de cunho existencial difundidas na reflexão lírica sobre o sentido da morte (e da vida). É ao buscar resolver o problema do trabalho - que é hoje, sob a crise do capitalismo global, o problema do desemprego - que ocorre o reencontro do personagem principal, com seu passado. Assim, no filme, o trabalho se coloca como eixo motriz que organiza o sentido da vida e da morte para o personagem.

No decorrer de "A Partida", temos a discussão do choque cultural entre tradição e modernidade, exposta, através da reflexão sobre a perda do sentido da morte ( nas sociedades capitalistas modernas. Isso acontece, por exemplo quando Daigo encontra um novo trabalho, no qual faz uma retomado da tradição no interior da modernidade do capital. O ritual da lavagem de defuntos, prática tradicional  japonesa, contém, uma ressignificação da morte. Max Weber, afirmou em  “Ciência como Vocação”, que para o homem moderno, a morte não possui significado. Porém, se a morte não possui significado, a própria vida  tornar-se, de certa maneira, sem sentido pleno.

É interessante apontar que a ressignificação da morte se dá a partir da problemática do trabalho, elemento central da trama narrativa e elo estruturante do sentido existencial do protagonista. Isto é, é o novo emprego e a nova relação que Daigo terá com o trabalho que irá lhe propiciar uma nova concepção do sentido da vida. Assim, o trabalho como atividade vital, torna-se não apenas meio de vida, mas sim a própria vida.

O que mais me tocou ente as discussões e que o próprio filme evidencia, é a relação intrínseca entre Trabalho e Vida (como Marx já expos nos "Manuscritos de 1844").

Além disso, temos que ter em mente que o trabalho é um elemento fundamental para compreendermos o homem e o processo social em seu fundamento ontológico. Ou seja, um trabalho alienado nos fundamentará a ter uma vida alienada. Enquanto um trabalho humanizado tende nos fornecer uma vida plena de sentido.  
Assim, a reflexão da relação do papel do trabalho e da alienação na vida cotidiana e cultural de uma sociedade, e posto no Correr de nossos olhos durante todo o filme.