"A Partida" simbolismos e ressignificação da Morte
domingo, julho 01, 2012
Postado por caphooke
O filme “A Partida”, de Yojiro Takita, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009, nos leva refletir, de modo lírico, sobre a trágica dialética entre Tradição e Modernidade sob as condições da crise estrutural do capital. O interessante é que o diretor Takita discute o tema da Tradição ameaçada e dissolvida pela modernidade do capital através de uma reflexão intensa - e as vezes bem-humorada - sobre o sentido da morte (e da vida) no mundo moderno. Conseguindo desse modo, problematizar o valor da Tradição sem ser nostálgico.
A sociedade japonesa
encontra-se em uma crise de desenvolvimento que expõe um leque de sintomas de
morbidez social. O que explica, de certo modo, porque o problema da morte (e do
próprio sentido da vida) aparece como sendo um problema decorrente da crise capitalista
sob a crise da modernidade tardia, o que se evidencia no filme através de uma intensa
força narrativa. Aliás, ao tratar da morte e sua significação, o filme resgata
o sentido da vida nas condições da crise atual de civilização.
No filme, através da esfera do
trabalho que se evidenciam as questões de cunho existencial difundidas na
reflexão lírica sobre o sentido da morte (e da vida). É ao buscar resolver o
problema do trabalho - que é hoje, sob a crise do capitalismo global, o
problema do desemprego - que ocorre o reencontro do personagem principal, com
seu passado. Assim, no filme, o trabalho se coloca como eixo motriz que
organiza o sentido da vida e da morte para o personagem.
No decorrer de "A Partida",
temos a discussão do choque cultural entre tradição e modernidade, exposta, através
da reflexão sobre a perda do sentido da morte ( nas sociedades capitalistas
modernas. Isso acontece, por exemplo quando Daigo encontra um novo trabalho, no
qual faz uma retomado da tradição no interior da modernidade do capital. O
ritual da lavagem de defuntos, prática tradicional japonesa, contém, uma ressignificação da morte.
Max Weber, afirmou em “Ciência como
Vocação”, que para o homem moderno, a morte não possui significado. Porém, se a
morte não possui significado, a própria vida tornar-se, de certa maneira, sem sentido
pleno.
É interessante apontar que a
ressignificação da morte se dá a partir da problemática do trabalho, elemento
central da trama narrativa e elo estruturante do sentido existencial do
protagonista. Isto é, é o novo emprego e a nova relação que Daigo terá com o
trabalho que irá lhe propiciar uma nova concepção do sentido da vida. Assim, o
trabalho como atividade vital, torna-se não apenas meio de vida, mas sim a
própria vida.
O que mais me tocou ente as discussões
e que o próprio filme evidencia, é a relação intrínseca entre Trabalho e Vida
(como Marx já expos nos "Manuscritos de 1844").
Além disso, temos que ter em
mente que o trabalho é um elemento fundamental para compreendermos o homem e o
processo social em seu fundamento ontológico. Ou seja, um trabalho alienado nos
fundamentará a ter uma vida alienada. Enquanto um trabalho humanizado tende nos
fornecer uma vida plena de sentido.
Assim, a reflexão da relação
do papel do trabalho e da alienação na vida cotidiana e cultural de uma
sociedade, e posto no Correr de nossos olhos durante todo o filme.
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